O ator e a máscara
Um dos problemas permanentes e talvez insolúveis do espirito humano seja saber se o individuo verdadeiro se apresenta, ou não, em suas manifestações externas; segundo se supõe, a palavra personalidade seria derivada de persona, e seria, máscara teatral: a máscara, entendida como objeto cênico, é ambígua e polivalente, é possível pensa-la como recurso de falsidade, destinado a esconder a verdadeira identidade do ator.
Essa compreensão do termo é, no entanto, insatisfatória:
Em primeiro lugar: o aspecto que o indivíduo decide revelar não é menos característico de sua pessoa do que os outros, hipoteticamente guardados; às vezes, a apresentação de um disfarçado é oportunidade para revelar-se.
Em segundo lugar: o aspecto exterior, embora “falso”, tem um efeito dinâmico muito significativo, ao ser identificado através desse aspecto exterior, o indivíduo acaba, também, por identificar-se através dele.
A noção de diferença ou peculiaridades individuais só é possível através do julgamento social; a noção do eu, assim como a de personalidade, não chegariam a desenvolver-se num individuo isolado.
Essa característica, talvez exterior e falsa, acaba por ser aceita pelo ator como sua característica pessoal; assim uma palavra que era inicialmente destinada ao aspecto mais superficial da pessoa, passou a designar o seu aspecto mais profundo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário