Pessoa e personagem
Um problema para o espirito humano é o da relação entre pessoa total e a imagem que se faz dela. Sabe-se que é impossível conhecer integralmente uma pessoa; até objetos muito mais simples (como arvores e pedras) é impossível conhecer completamente; para poder conhecer é preciso simplificar e esquematizar, ao fazer isso, reduz a pessoa a alguns traços mais importantes ou ostensivos, e passa a reagir a estes últimos, como se constituíssem a pessoa. O que há de errado nesse processo, é que a pessoa continua viva, continua a agir e a desenvolver-se, a contradizer dos esquemas, a fugir das predições.
Para verificar este processo, basta pensar nas personagens literárias, aparentemente, é mais fácil compreender as personagens exemplares do romance e do teatro (D. Quixote, Fausto, D. Juan, JulienSorel, Hamelet, Otelo) do que entender o vizinho ou os amigos; essas personagens são mais completas do que as pessoas que se convive diariamente.
É através de personagens que é possível compreenderem as pessoas, embora essa compreensão seja sempre fragmentária e incompleta.
Ex: embora D. Quixote nunca tenha existido, pelo menos com todas as características a ele atribuídas por Cervantes, estas características permitem compreenderem alguns homens reais, assim como entender suas lutas contra moinhos de vento ou seu amor por Dulcinnéias.
Embora se possa dizer que seja uma simplificação, é preciso acrescentar que é também uma ampliação das características humanas mais significativas e profundas.
Quando se deixa de procurar ver a pessoa real, e julga ela através de estereótipos, ignorando suas verdadeiras características, tem-se um processo de negação das diferenças ou peculiaridades individuais, ao invés de um processo de conhecimento; isso ocorre quando se usa classificações como: judeu, negro ou alemão.
Também na autodescrição as pessoas acabam por simplificar e esquematizar; é uma ilusão uma pessoa pensar que seria capaz de se conhecer mais e melhor do que os outros seriam capazes de fazê-lo. Cada pessoa é personagem de si mesma, ela apresenta imagens simplificadas de sua realidade psicológica para ela e para os outros; essa simplificação pode estar cheia de má fé, e ter como objetivo enganar a ela e aos outros. Mesmo quando isso não ocorre, a pessoa sente que não diz tudo a seu respeito, não apenas por pudor, mas também porque seria impossível de fazê-lo.
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