A personalidade como problema contemporâneo
A noção de individualidade psicológica não é uma criação da época atual; já no renascimento, ao lado da continuidade da tradição, as inovações técnicas e os novos conhecimentos permitiram o aparecimento de homens preocupados com a sua individualidade e com as diversidades de caráter e de opiniões entre os homens. A solução que a filosofia cartesiana trouxe para essas questões está muito longe de conduzir a uma solução personalística.
A medicina chegou a ocupar-se com esse problema, nesse caso se referia à possibilidade de encontrar elementos comuns a grupos de homens, através de classificações de caracterologia; nesse processo de generalização e predição afastou-se a noção de individualidade.
No Romantismo, procura-se a individualidade; a originalidade passa a ser o verdadeiro sinal de grandeza literária e humana; a partir do século XIX, essa tendência acentuou-se cada vez mais, não só na literatura, mas, de modo geral, em todas as artes. Por outro lado, essa acentuação é acompanhada por uma tendência oposta, que consiste em padronizar o comportamento e o gosto. Se a democratização política, criada pela Revolução Francesa, e a democratização econômica, criada pela Revolução Industrial, permitiram maior desenvolvimento das características diferenciadoras do indivíduo, criam, também, condições para seu desaparecimento: no caso da arte, o criador tornou-se independente do gosto aristocrático, e isso permitiu, provavelmente, a criação de novas formas de arte; ao mesmo tempo, o artista passou a depender da aceitação do publico, na medida em que este permite, ou não, a publicação de obras literárias ou a manutenção do artista plástico; na vida econômica, a revolução industrial permitiu o aparecimento de indivíduos criadores e empreendedores, ao mesmo tempo, eliminou, quase totalmente, a possibilidade do trabalho artesanal e original.
Essas consequências contraditórias provocaram críticas e diagnósticos também opostos quanto à época atual: para os otimistas, o homem nunca dispôs de tantos recursos e tantas oportunidades para seu desenvolvimento; para os pessimistas, a sociedade de massa é, fundamentalmente, um ambiente propício à mediocridade e ao desaparecimento da verdadeira individualidade.
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